Em Recife, detentos fazem ioga para reduzir tensão
Detento do Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros, Luiz Alberto Pessoa, 42 anos, conta que viu o mar sem sair da unidade que integra o Complexo Prisional do Curado, antigo Aníbal Bruno. A experiência aconteceu durante uma sessão de meditação em curso ministrado para 53 internos ontem.
A aula faz parte do projeto de reabilitação de presos Prision Smart, criado pela Organização Internacional Arte de Viver. As técnicas de ioga, meditação e respiração foram ensinadas pelo instrutor da Arte de Viver Ismael Mastrini. O curso chega ao fim hoje. As aulas acontecem desde segunda-feira na igreja localizada entre os pavilhões do presídio que tem capacidade para 992 detentos, mas que tem 3.228 internos atualmente.
O curso segue o mesmo modelo dos oferecidos em prisões da Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e México. No Brasil, experiências semelhantes foram realizadas no Rio de Janeiro, em 2012. “As realidades nos presídios são muito parecidas. O grupo normalmente chega com alguns receios, mas torna-se receptivo e termina o curso mais tranquilo e com menor índice de violência”, destacou Mastrini. Luiz Alberto, que não quis comentar a pena que cumpre no presídio, disse que a experiência foi positiva e alegou sentir-se mais leve após os momentos de meditação. “Começamos o curso com meditações em tempos mais curtos. Depois, conseguimos flutuar. Vi a praia. Outros viram a família, um campo”, relatou Alberto.
Um relatório da Human Rights Watch, divulgado este mês, mostrou que um dos maiores focos de HIV e tuberculose em Pernambuco está nos presídios. Intitulada “O estado deixou o mal tomar conta - a crise do sistema prisional do estado de Pernambuco”, a pesquisa apontou a existência de uma epidemia das duas doenças nas unidades prisionais do estado. Segundo o documento, são 2.260 casos de tuberculose por 100 mil presos, ou seja, uma taxa quase 100 vezes maior que a média na população brasileira. A prevalência de infecções pelo vírus HIV é mais de 42 vezes maior que a verificada na população brasileira em geral, chegando a 870 casos por 100 mil presos.
Entrevista
O argentino Ismael Mastrini, instrutor sênior da Organização Arte de Viver, é um dos maiores especialistas na condução do programa social Prision Smart, voltado à comunidade prisional. Ele já realizou cursos semelhantes ao ministrado no Recife em prisões de outros países, como Uruguai, Chile e México.
Quais são os benefícios da prática da ioga para a população carcerária? São muitos os benefícios. A prática traz mais tranquilidade e diminui a violência. Eles ficam mais felizes e com a mente tranquila. No curso, aprendem técnicas para empreender mudanças por toda a vida e não só durante os dias de aula.
O que eles aprendem que podem colocar em prática depois dos dias de curso?No curso, eles aprendem ioga, meditação e respiração. Com isso, aprendem também a ter maior autocontrole sobre o corpo e as atitudes. Quando o curso termina, voltamos uma semana depois e retornamos ainda dois meses depois. As lições, porém, ficam para a vida toda. Quando eles saem do presídio, podem continuar em contato com a organização.
A prática da ioga e meditação baixa também o nível de reincidência nos presídios onde ministramos o curso. Esse mesmo modelo já foi adotado na Argentina, no México, entre outros.
0 Comentários
Faça um comentário construtivo para esse documento.