Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
26 de Abril de 2024

Delete meu passado, por favor! Britânicos também almejam o Direito ao Esquecimento

Publicado por Fátima Burégio
há 9 anos

Por BBC

Adolescentes s vezes postam sem pensar diz baronesa Kidron que lidera projeto Foto BBC “Adolescentes às vezes postam sem pensar', diz baronesa Kidron, que lidera projeto. (Foto: BBC)

Imagine um botão que permita apagar o passado - seu passado online, na verdade. Na Grã-Bretanha acaba de ser lançada uma campanha pedindo que crianças e adolescentes possam fazer exatamente isso.

A iniciativa iRights se baseia na ideia que jovens devem ter a possibilidade de editar ou deletar facilmente conteúdo de internet que tenham criado que possa ter ficado obsoleto ou inapropriado.

Apoiada pelo Ministério de Segurança na Internet britânico, o projeto visa a dar poder às gerações que cresceram no mundo virtual.

"Menores e jovens passam por tantas mudanças sociais e de desenvolvimento que há algo profundamente injusto em serem julgados depois por coisas que fizeram quando tinham 14 ou 15 anos", disse a BBC a baronesa Beeban Kidron, que está à frente da iniciativa.

Também deveria ser "fácil e simples" se livrar de "pegadas digitais" embaraçosas e até incriminatórias - aqueles erros de julgamento e provas inquietantes que ficam na rede muito depois de terem sido esquecidas por amigos e família.

A infância, diz Kidron, não deveria deixar uma marca permanente na internet. "Experimentação pessoal é uma parte essencial do desenvolvimento na infância, mas a internet nunca esquece e nunca corrige."

Mudanças mais profundas

O "direito a remover" que a Grã-Bretanha quer dar aos menores de 18 anos reflete mudanças mais profundas na sociedade.

Estamos passando por um uma "mudança monumental na era digital, de uma padrão de esquecimento a um padrão de lembrança", diz o professor de Oxford Viktor Mayer-Schonberger, autor de Delete: The Virtue of Forgetting in the Digital Age ("Apague: a virtude de esquecer na era digital", em tradução livre).

Enquanto, no passado, a informação tendia a ser arquivada ou descartada, a internet criou uma memória coletiva permanentemente acessível.

Embora seja possível retirar postagens de redes sociais como Twitter e Facebook, elas podem aparecer novamente em buscas online - e não apenas fotos que causem vergonha ou sejam atrevidas como também informações sobre condenações criminais e disputas legais.

A tensão é particularmente grande para vítimas de violência sexual, bullying ou outros tipos de abuso. A "opção por remover" da iniciativa do iRights é parte de uma série maior de propostas para crianças e adolescentes que estão sendo promovidas pelos apoiadores do direito à privacidade.

Elas incluem o direito a saber quem detém suas informações ou o direito a ser protegido para não ter que fornecer dados pessoais quando as implicações disso não forem completamente conhecidas.

Delete meu passado, por favor

Além disso, o "direito a remover" foi inspirado pela iniciativa mais ampla do "direito ao esquecimento" que as cortes europeias têm defendido nos últimos cinco anos.

A Espanha, especialmente, tem liderado a busca digital pelo direito de remover conteúdo antigo da internet. O caso do advogado espanhol Mario Costeja Gonzalez entrou para a história jurídica quando a Corte Europeia de Justiça decidiu a seu favor contra o gigante da internet Google.

Em 1998, o jornal espanhol La Vanguardia publicou uma reportagem dizendo que Costeja havia sido obrigado a vender sua propriedade devido a dificuldades financeiras.

Mais de dez anos depois, porém, detalhes desse sua difícil experiência ainda apareciam em buscas online, apesar de ele ter quitado suas dívidas há tempos.

Costeja reclamou com a Agência de Proteção de Dados espanhola. Seu caso foi para a Corte Europeia, que decidiu a seu favor (mas não contra o jornal espanhol), proibindo o Google de direcionar buscas pelo nome de Costeja a links de reportagens.

A Corte foi além e emitiu diretrizes que afirmavam que qualquer indivíduo em países europeus sob jurisdição da Corte poderia impedir o Google ou qualquer outra ferramenta de busca de mostrar conteúdo que a pessoa considerasse inapropriado ou não mais relevante.

O efeito dominó foi imediato: nos quatro meses após a decisão, o Google recebeu cerca de 150 mil pedidos para que 500 mil links fossem "esquecidos", dos quais metade foi de fato removida.

A decisão também despertou um acalorado debate sobre até onde o esquecimento do passado poderia ir.

A Associação Computador e Comunicação - que inclui o Facebook, Google e Microsoft entre os membros - diz que o caso abriu a porta para uma "censura privada de larga escala" na Europa.

Vários grupos argumentaram que as reportagens no caso de Costeja foram noticiadas de forma precisa e que já estavam em domínio público, então sua remoção interferia nos direitos de uma organização de mídia lícita.

Assim como o "botão delete" na campanha do iRights, a dualidade é entre o direito a ser esquecido e a liberdade de expressão sem restrições.

"A preocupação é que esse novo 'direito' possa ser usado para esconder informações embaraçosas que estejam legitimamente em domínio público e das quais o público tem o direito de saber", diz Gabrielle Guillemin, diretora jurídica do Article19, uma organização de direitos humanos baseada em Londres.

"Devemos ser cautelosos para não deixar que o 'direito a ser esquecido' seja uma vantagem que passe por cima da liberdade de expressão", afirmou Guillemin.

Para os patrocinadores da iRight, o debate público entre liberdade e proteção é "falsamento polarizado".

Há ainda outros desafios pela frente - alguns de natureza tecnológica, como o próprio design do "botão delete". Alguns especialistas dizem que é improvável que o mecanismo seja criado, implementado e regulado.

A baronesa Kidron é mais otimista. "A tecnologia está disponível; é só uma questão de trazê-la para a linha de frente e criar uma 'lixeira visível'. Estamos trabalhando nisso".

Os ativistas ainda precisam convencer empresas a trabalhar com eles e com o governo em políticas para proteger mais crianças e adolescentes online. Alguns grandes nomes já se alistaram, incluindo bancos internacionais e organizações de mídia, assim como a comunidade de software livre Mozilla.

"Muitos empresários vão perceber que a privacidade é uma vantagem comercial", diz Rachel O'Connell, conselheira do governo e fundadora da consultoria de tecnologia Trustelevate. Para que a iniciativa tenha um impacto significativo, porém, ela vai precisar de mais pessoas aderindo.

  • Sobre o autorRecife
  • Publicações605
  • Seguidores254
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoNotícia
  • Visualizações284
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/delete-meu-passado-por-favor-britanicos-tambem-almejam-o-direito-ao-esquecimento/215341649

3 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

Belo texto, rico em conteúdo, parabéns.

Dizem os antigos, seja lembrado pelos seus bons atos e que os maus, caiam no esquecimento.
Hoje com essa modernidade, a tecnologia não permite o tal esquecimento.
As pessoas até podem, mas os registros não, estarão sempre a disposição para serem lembrados pelos esquecidos.
Abraços
Em tempo: hoje o ditado é assim, "caiu na net, virou peixe". continuar lendo

Perfeito pensar, caro Paulo Abreu!
Grata por sua participação!
Forte abraço! continuar lendo

Existem coisas que são tolas, não são dignas de serem lembradas, coisas que só comprometem a pessoa que teve sua vida divulgada.

Mas ...

Essa é uma ideia ainda em construção, e que também pode violar o direito de informação, especialmente se vier a ser aplicada ao passado criminal de alguém.

É claro que o criminoso quer ver seu passado apagado, seja para reconstruir sua vida, seja para que ninguém saiba que está acariciando "um lobo achando que é seu animal de estimação".

Imaginem um grupo de jovens de 15-17 anos que estupram duas jovens, amarram elas, espancam, estupram novamente e depois jogam-nas de uma altura de 10m, na qual uma morre (isso aconteceu no Brasil) ... alguém iria querer empregar um sujeito desse como caseiro sabendo que suas filhas estão a sós com ele? temos o direito de saber com quem estamos lidando.

Quem cometeu erros e quer se recuperar tem que travar uma batalha diária para reconquistar a confiança perdida, é o preço a que se sujeitaram. Não se pode é exigir confiança cega, até porque quando ocorrer algo o Estado é o primeiro a querer se isentar.

Toda sorte de pedidos de esquecimento estão sendo feitos. É preciso muita ponderação sobre quais informações serão "apagadas" (a internet não está limitada ao Google e ao Facebook) ... preocupa um país como o nosso onde tudo é feito na politicagem, onde não se pode confiar em políticos, OAB, etc.

Que o direito ao esquecimento recaia sobre as vítimas e não sobre os lobos. continuar lendo